sexta-feira, 6 de abril de 2018

Em 1946: A homenagem de Marighella a um general da FEB

Á esquerda da imagem o general Mascarenhas, proclamado como marechal naquele dia. No lado direito, o deputado Carlos Marighella proferindo o discurso em homenagem ao marechal e a FEB. (Foto: Tribuna Popular, 1946)

 Nos dias atuais, o Brasil viu o general Villas Bôas fazer sua aparição na mídia incitando uma eventual intervenção militar e inflamando ainda mais a instabilidade política do país. Muito tem se falado sobre a falta de idoneidade general-de-exército em estimular um novo golpe militar ao país. Como dizia o saudoso Lamarca: "Tarefa militar é tarefa política". Mas quando esta tarefa militar-política propõe aplicar algo que já mostrou-se danoso ao povo e ameaça voltar de novo, provoca-se uma série de direitos conquistados pós-ditadura. Em outros tempos, quando os militares da FEB (Força Expedicionária Brasileira) não tinham a proposta de serem golpistas como foram os de 1964 e como ameaçam ser os de hoje, generais eram recebidos com imensa satisfação pelo povo brasileiro por terem combatido para livrar a Itália do fascismo. 

 Em 1946, o general Mascarenhas de Morais, combatente na Campanha da Itália, foi homenageado no congresso brasileiro, valendo a ele a patente máxima de Marechal. Entre seus homenageadores estavam o deputado baiano Vieira de Melo (PSD). Além dele outro baiano, ninguém menos que o também deputado Carlos Marighella (PCB). Em homenagem ao militar, Marighella proclamou o seguinte discurso:

"Sr. Presidente. Sr. Marechal Mascarenhas de Morais. Srs. Ministros e demais autoridades presentes. Grande honra é para o Partido Comunista interpretar os sentimentos do nosso povo. Saudando a gloriosa Força Expedicionária Brasileira na pessoa de seu comandante em chefe. Para isso nos reunimos nesta casa - a mais alta encarnação da soberania popular - e como se fossemos uma única vontade - todos os partidos aqui representados - confraternizamos nesta homenagem a um valoroso cabo de guerra. 

 Sr. Marechal. Confirma agora esta Assembleia o apreço que vos tem. Pois - como sabeis - antes, neste mesmo recinto, por unanimidade de votos, vos haviam sido concedidas, sem a vossa presença aliás, as honras de Marechal de nosso glorioso Exército. A verdade é que nenhum patriota pode desconhecer o papel de nossos soldados e marinheiros de guerra. 
(...)

 Somos insuspeitos para dizê-lo sr. Marechal, nós os comunistas que vos saudamos. Perseguidos durante mais de duas décadas, reduzidos a uma ilegalidade brutal, presos e deportados na maior parte os novos dirigentes, não negamos o nosso apoio ao governo que fazia guerra contra o banditismo nazistas. 

(...)

 Quando mais não bastassem os esforços conjugados das Forças Armadas, do povo e do governo para esmagar o fascismo, pelo menos haveríamos de nos sentir recompensados com o resultados obtido - a volta do país a legalidade democrática. Vossa presença nesta Casa sr. Marechal, significa, por sem dúvida, um marco histórico na Marcha da Democracia, uma nova fase nos costumes políticos do país. 

(...)

 Cremos, porém, tenha sido o nosso governo advertido dos interesses da Nação. O Exmo. Sr. Gen. Eurico Gaspar Dutra é homem da lei, e - como vós - rijo soldado do nosso Exército. No alto posto que ocupa há de ver e sentir o que reina por entre nós. Como comunistas - e não cremos que outro seja o propósito das demais forças políticas aqui agrupadas - o nosso desejo é o apoio franco, leal e sincero ao governo. 

 Possa, assim, sr. Marechal, a vossa presença nesta Casa servir mais uma vez aos interesses da Pátria, e que, pela saudação que ora vos fazemos, saiba a Nação do clamor de todos os brasileiros por um governo de confiança nacional, pelo asseguramento da democracia com a nova carta constitucional, por cuja aplicação o Partido Comunista se baterá e da qual será defensor intransigente."

O discurso de Marighella remonta a uma importante frase: "Está fadada ao fracasso a esquerda que não está em sintonia com seus militares.", o Marechal Mascarenhas chegou a dirigir uma carta para o deputado comunista Milton Caires de Brito em agradecimento ao discurso pecebista. Em tempos onde vozes como a de Villas Bôas ecoam nos ouvidos do povo, faz-se cada vez mais importante uma alternativa de esquerda as infames declarações do oficial. Tal como ele, seu antecessor, Enzo Peri, chegou a dar ordem para os militares do exército não darem depoimentos a Comissão da Verdade. Por mais infeliz que seja, as viúvas da ditadura militar ainda estão nas fileiras das forças armadas, e com a crescente reacionária não têm mais medo de prejudicar ainda mais o país.

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