domingo, 11 de setembro de 2016

Petkovic: o ídolo socialista (?)

Petkovic em charge de Vini Oliveira.

 Dentre a grande quantidade de ídolos que o Vitória obteve ao longo de sua história secular, Dejan Petkovic foi com certeza um dos que mais se destacaram. A aproximação do craque, que completou 44 anos ontem, com o Vitória começa antes mesmo dele vestir a camisa rubro-negra em Salvador. Foi na Espanha, que jogando pelo Real Madrid B, Pet marcou num amistoso contra o Leão e ajudou os merengues na estrondosa goleada por 5 a 1. Esse jogo procedeu na sua contração e sua vinda para o Brasil, onde deslancharia nos gramados. Mas sua história com o socialismo, começa ainda antes do Vitória e do Real Madrid.

 Acontece que Pet nasceu em 1972, em Majdanpek, uma pequena cidade da antiga Iugoslávia socialista, localizada na República Socialista da Sérvia, perto da fronteira com a Romênia. Na época de seu nascimento o líder iugoslavo ainda era o Marechal Josip Broz Tito, que em 1945, junto dos partisans (guerrilheiros) livrou o país das garras do fascismo durante a segunda guerra, em seguida proclamando-o socialista.
O jovem 'Rambo' pelo Radnick Nis.

 Quando Petkovic ingressou na carreira futebolística, em 1987, no time homônimo a sua cidade natal, era apelidado de Rambo pelos companheiros de equipe. Tito já havia falecido e o rodízio de líderes acontecia (a cada um ano o represenante de uma das seis repúblicas era proclamado presidente). Pet ascendeu e chegou a se tornar o jogador profissional mais jovem da Iugoslávia, com 16 anos. Seu bom futebol, o levou de Majdanpek para o Radnick Nis e em seguida para o Estrela Vermelha, equipe fundada por antifascistas durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo ele não estrelando na conquista do último campeonato iugoslavo com a participação das seis nações, no ano seguinte ele ganhou espaço no elenco, pois os principais atletas saíram do país por causa da Guerra Civil Iugoslava. Tal guerra gerou conflitos de enormes proporções no antigo território iugoslavo. Um deles, o Cerco de Sarajevo, na capital da Bósnia, quando a Sérvia (reconhecida pela ONU como sucessora da Iugoslávia) não aceitava reconhecer a independência da Bósnia e da Croácia. Sobre o episódio, o ex-atleta comentou em 2009: "Eu encaro essa separação como um interesse político e econômico. O povo sofreu e houve morte de inocentes".

Jaksic e Petković
Nenad Jacksic e Petkovic, pelo Radnick Nis na Iugoslávia. 

 A guerra instituída prejudicou a carreira do sérvio, que jogou pela seleção iugoslava nas eliminatórias para a Eurocopa de 1992. O país se classificou, mas por via de seus conflitos não pode participar, e seu lugar jogou a Dinamarca, campeã naquele ano. As conflagrações na Iugoslávia atingiam até mesmo a constituição da era Tito, que dizia: "A República Federativa Popular da Iugoslávia é um Estado federal popular de forma republicana, uma comunidade de povos iguais em direitos que, em virtude do direito dos povos de disporem de si mesmos, inclusive o direito de livre separação, exprimiram a sua vontade de viver unidos no Estado federativo" (revista Problemas, 1947, editada por Marighella). Com o Cerco de Sarajevo durando até 1996, Pet foi transferido para o Real Madrid em 1995. Sem muitas chances no clube, foi emprestado a outros times espanhóis, e em 1997, jogando pelo Real Madrid B, foi descoberto pelo Vitória, ao estufar três vezes a rede rubro-negra. Waltercio Fonseca o trouxe pra Toca do Leão, onde ele levou o clube da 14° colocação no Brasileirão para a 6° em cerca de cinco jogos.
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Pelo Vitória em 1998.
 Pet construiu sua carreira no Brasil, sendo ídolo do Vitória, Flamengo, Vasco e Fluminense. Questionado no SporTV sobre o esporte na Iugoslávia, Pet disse: "A gente vivia num país socialista, e o esporte estava presente, tinha tudo, e era uma época muito bonita, muito rica em todas essas coisas". Já em entrevista a Ana Maria Braga, Pet ressaltou: "Na verdade quando eu nasci não tinha problema nenhum. A gente vivia num regime socialista, todo mundo bem, todo mundo trabalhando...". Já em entrevista a Revista Vírus, em 2011, ele disse: "A vida socialista é boa porque todo mundo vive bem, os impostos são todos aplicados realmente nos serviços sociais. Todo mundo vive da mesma maneira, tem um bom salário. Mesmo tendo defendido o socialismo nessas ocasiões, o ex-meia diz que não se define sua vertente política: "Eu não me defino porque eu não sou membro de nenhum partido político na Sérvia, nem aqui. Mas eu sou um cidadão que quer o melhor para a cidadania. No mundo ideal, o socialismo é perfeito".