quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Nota de apoio às ocupações em todo o Brasil



A Brigada Marighella, torcida de esquerda do Esporte Clube Vitória, manifesta apoio as ocupações de Escolas, Universidades e Institutos Federais que ocorrem por todo o Brasil em decorrência das medidas autoritárias, do governo golpista e ilegítimo de Michel (Fora) Temer, que atacam direitos dos trabalhadores e retiram recursos de áreas essenciais. O congelamento dos investimentos dos recursos federais na saúde e educação durante 20 anos atingirão de forma cruel a maior e mais sensível parcela da população brasileira.

Estudantes em todo o Brasil organizados por suas entidades de Base, diante dessas medidas trágicas, tem dado uma lição de bravura e coragem ocupando esses espaços para defender uma educação pública, gratuita, inclusiva, de qualidade e com recursos garantidos pelo Estado; enfrentando forte perseguição e intimidação que violam direitos fundamentais do Estado Democrático de Direito. Nós da brigada Marighela convocamos a tod@s a estarem juntos nessa luta. Ocupar e resistir!

Nem esqueceremos, Nem perdoaremos!

#OcupaTudo #NaoaPEC241 #NenhumDireitoAMenos #ForaMundico

Brigada Marighella

sábado, 15 de outubro de 2016

Paul Robeson... de esportista a ativista



 É evidente que os movimentos de cunho anti-racista nos Estados Unidos do século XX foram bastante influenciados pelo socialismo. Os conflitos raciais que se acentuavam no começo da era novecentista se estenderam por longas décadas, tendo seu ápice com as manifestações de Luther King e os Panteras Negras. Muito antes disso, revoltas como a Rebelião de Omaha foram marcos da história estadunidense, e numa época onde a população negra era segregada, tendo de se ater aos padrões da sociedade americana, um afro-americano de Princeton foi em contrapartida de todo o nacionalismo, destacando-se pela luta de direitos civis.

 Paul Robeson nasceu em Princeton em abril de 1898, sendo o caçula de cinco irmãos. Filho de um ex-escravo fugitivo e de uma mãe que vinha de uma família abolicionista, aos 17 anos ele ganha uma bolsa de estudos na Universidade de Rutgers, na qual praticou esportes como beisebol, basquete e atletismo. Dali sofrera com o racismo dos colegas de equipe, embora ele tenha atuado por duas equipes de futebol americano, a Akron Pros e a Milwaukee Badgers. No entanto, seu nome só foi introduzido no salão de futebol da faculdade cerca de vinte anos após a sua morte.
Como jogador de futebol americano na época de faculdade.

 Como estudante da Faculdade de Direito de Columbia, Robeson conheceu Eslanda Cordoza, com que se casou. Eslanda também negra, foi pioneira ao ser a primeira afro-americana a dirigir um laboratório de patologia. O marido por sua vez, já trabalhando como ator, viria a ser o primeiro negro a interpretar o papel de Otelo, na peça de Shakespeare. Acontece que enquanto trabalhava com a advocacia, o ex-esportista foi desacatado por um secretário branco e passou a trabalhar com artes para difundir a cultura africana e afro-americana. Sendo assim, entre as décadas de 1920 e 1930, ele atuou em diversos filmes e chegou até a ser condecorado como melhor ator em um festival de 1944. Ao viver na Europa no fim dos anos 20, ele constatou que o racismo não era algo tão feroz no Velho Continente como era em seu país natal.

  O fato alertou Robeson para as adversidades que o racismo trazia. Foi dessa forma que ele ingressou no ativismo político, apoiando o Pan-africanismo no auge de sua carreira artística, cantando em prol de movimentos sociais e de trabalhadores em 25 línguas pelos EUA, URSS, África e Europa. Com o sentimento antifascista, ele mantinha amizade com a anarquista Emma Goldman e chegou a doar a renda de um festival para povos judeus refugiados do nazismo. Em 1937 participou de um comício antifascista na Guerra Civil Espanhola onde disse: "O artista deve optar por lutar pela liberdade ou escravidão. Eu fiz minha escolha. Eu não tinha alternativa".
Paul Robeson na União Soviética.

 Quando conviveu com soviéticos nos anos 30, Robeson foi tratado com dignidade, tendo sido adorado por moscovitas. Na capital Moscou, ele estudou russo, assim como seu único filho Paul Robeson Jr. que lá morou com a avó. Ele voltara aos Estados Unidos por volta de 1943, época em que se viu discutindo com funcionários do governo americano. Voltado contra o machartismo e as doutrinas de opressão que os cercava, Paul Robeson chegou a ser investigado pelo FBI e teve seu passaporte apreendido em 1950. Isso não o impediu de ser homenageado por soviéticos em 1952 com o Prêmio Lenin da Paz, juntamente com a brasileira Eliza Branco.
Robeson em uma festa da embaixada soviética nos EUA, em 1950, quando se comemoravam 33 anos da Revolução Russa.

 Em 1958 escreveu sua autobiografia na qual fez importantes declarações acerca do socialismo, como: "Em muitas ocasiões manifestaram publicamente a minha crença no socialismo científico, a profunda convicção de que para todos a humanidade de uma sociedade socialista representa um avanço para um estágio superior de vida - que é uma forma de sociedade que seja econômica, social, cultural e eticamente superiores a um sistema baseado na produção para o lucro privado... o desenvolvimento da sociedade humana, de tribalismo ao feudalismo, o capitalismo, o socialismo- é provocada pelas necessidades e aspirações da humanidade por uma vida melhor." e também: "A democracia não pode sobreviver em uma América racista".

 Paul Robeson veio a falecer em janeiro de 1976 na Filadélfia vítima de um derrame cerebral, onze anos após a morte de sua esposa Elanda.

"Você
Paul Robeson,
defensor do pão do homem,
honra,
luta,
esperança.
Luz do homem,
filho do sol,
o nosso sol,
sol do subúrbio americano
e das neves vermelhas
dos Andes:
você guarda a nossa luz

cante,
camarada,
cante,
irmão da terra,
cante,
bom pai de fogo,
cante para todos nós..." (Ode a Paul Robeson, por Pablo Neruda)

Paul Robeson cantando a versão em inglês da canção russa Polyushko Polye, música criada em plena Guerra Civil Russa:


Robeson cantando o hino da União Soviética em inglês :

                                                                                                                                                                                            

domingo, 11 de setembro de 2016

Petkovic: o ídolo socialista (?)

Petkovic em charge de Vini Oliveira.

 Dentre a grande quantidade de ídolos que o Vitória obteve ao longo de sua história secular, Dejan Petkovic foi com certeza um dos que mais se destacaram. A aproximação do craque, que completou 44 anos ontem, com o Vitória começa antes mesmo dele vestir a camisa rubro-negra em Salvador. Foi na Espanha, que jogando pelo Real Madrid B, Pet marcou num amistoso contra o Leão e ajudou os merengues na estrondosa goleada por 5 a 1. Esse jogo procedeu na sua contração e sua vinda para o Brasil, onde deslancharia nos gramados. Mas sua história com o socialismo, começa ainda antes do Vitória e do Real Madrid.

 Acontece que Pet nasceu em 1972, em Majdanpek, uma pequena cidade da antiga Iugoslávia socialista, localizada na República Socialista da Sérvia, perto da fronteira com a Romênia. Na época de seu nascimento o líder iugoslavo ainda era o Marechal Josip Broz Tito, que em 1945, junto dos partisans (guerrilheiros) livrou o país das garras do fascismo durante a segunda guerra, em seguida proclamando-o socialista.
O jovem 'Rambo' pelo Radnick Nis.

 Quando Petkovic ingressou na carreira futebolística, em 1987, no time homônimo a sua cidade natal, era apelidado de Rambo pelos companheiros de equipe. Tito já havia falecido e o rodízio de líderes acontecia (a cada um ano o represenante de uma das seis repúblicas era proclamado presidente). Pet ascendeu e chegou a se tornar o jogador profissional mais jovem da Iugoslávia, com 16 anos. Seu bom futebol, o levou de Majdanpek para o Radnick Nis e em seguida para o Estrela Vermelha, equipe fundada por antifascistas durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo ele não estrelando na conquista do último campeonato iugoslavo com a participação das seis nações, no ano seguinte ele ganhou espaço no elenco, pois os principais atletas saíram do país por causa da Guerra Civil Iugoslava. Tal guerra gerou conflitos de enormes proporções no antigo território iugoslavo. Um deles, o Cerco de Sarajevo, na capital da Bósnia, quando a Sérvia (reconhecida pela ONU como sucessora da Iugoslávia) não aceitava reconhecer a independência da Bósnia e da Croácia. Sobre o episódio, o ex-atleta comentou em 2009: "Eu encaro essa separação como um interesse político e econômico. O povo sofreu e houve morte de inocentes".

Jaksic e Petković
Nenad Jacksic e Petkovic, pelo Radnick Nis na Iugoslávia. 

 A guerra instituída prejudicou a carreira do sérvio, que jogou pela seleção iugoslava nas eliminatórias para a Eurocopa de 1992. O país se classificou, mas por via de seus conflitos não pode participar, e seu lugar jogou a Dinamarca, campeã naquele ano. As conflagrações na Iugoslávia atingiam até mesmo a constituição da era Tito, que dizia: "A República Federativa Popular da Iugoslávia é um Estado federal popular de forma republicana, uma comunidade de povos iguais em direitos que, em virtude do direito dos povos de disporem de si mesmos, inclusive o direito de livre separação, exprimiram a sua vontade de viver unidos no Estado federativo" (revista Problemas, 1947, editada por Marighella). Com o Cerco de Sarajevo durando até 1996, Pet foi transferido para o Real Madrid em 1995. Sem muitas chances no clube, foi emprestado a outros times espanhóis, e em 1997, jogando pelo Real Madrid B, foi descoberto pelo Vitória, ao estufar três vezes a rede rubro-negra. Waltercio Fonseca o trouxe pra Toca do Leão, onde ele levou o clube da 14° colocação no Brasileirão para a 6° em cerca de cinco jogos.
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Pelo Vitória em 1998.
 Pet construiu sua carreira no Brasil, sendo ídolo do Vitória, Flamengo, Vasco e Fluminense. Questionado no SporTV sobre o esporte na Iugoslávia, Pet disse: "A gente vivia num país socialista, e o esporte estava presente, tinha tudo, e era uma época muito bonita, muito rica em todas essas coisas". Já em entrevista a Ana Maria Braga, Pet ressaltou: "Na verdade quando eu nasci não tinha problema nenhum. A gente vivia num regime socialista, todo mundo bem, todo mundo trabalhando...". Já em entrevista a Revista Vírus, em 2011, ele disse: "A vida socialista é boa porque todo mundo vive bem, os impostos são todos aplicados realmente nos serviços sociais. Todo mundo vive da mesma maneira, tem um bom salário. Mesmo tendo defendido o socialismo nessas ocasiões, o ex-meia diz que não se define sua vertente política: "Eu não me defino porque eu não sou membro de nenhum partido político na Sérvia, nem aqui. Mas eu sou um cidadão que quer o melhor para a cidadania. No mundo ideal, o socialismo é perfeito".

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Marinaleda, uma cidade socialista na Espanha

A imagem de Che Guevara ao lado do brasão de armas de Marinaleda.
 A resistência da esquerda na Espanha se notabilizou desde a década de 30 pelos conflitos bélicos da Guerra Civil Espanhola. Porém, o país sofreu com a ditadura de Francisco Franco, que viria a acabar somente na década de 70. Em meio a isso, uma cidade agrária hispânica a qual denomina-se Marinaleda, onde situam-se cerca 3000 habitantes, conviveu com uma ampla reforma a qual o próprio país também estava subordinado, deixando de lado as chagas do franquismo.

 Com a redemocratização da Espanha e a abertura de sindicatos nos campos, os camponeses de Marinaleda iniciaram a reforma agrária em fins dos anos 70 com a tomada de dois latifúndios estabelecidos no governo anterior. Em 1979 o professor e sindicalista Juan Manuel Sánchez Gordillo elegeu-se prefeito e promoveu diversas mudanças no cenário do município. As ruas que outrora exaltavam os militares passaram a homenagear nomes como Che Guevara e Salvador Allende.
Marinaleda, Chrismon
Rua Utopia em Marinaleda.
 Ao longo dos anos, outras fazendas foram sendo ocupadas, o que gerou diversas ações judiciais e ao mesmo tempo a conquista de hectares por parte dos trabalhadores do campo. Na década de 90 criaram-se as cooperativas e fábricas que corroboraram o desenvolvimento da jurisdição da Andaluzia. A partir de 2008, a crise econômica gerada pelos EUA, diversos países da UE foram prejudicados, inclusive na própria Andaluzia, onde as taxas de desemprego batiam 30%. Marinaleda porém seguia estável na empregabilidade.
Marinaleda, Chrismon
Bairro cooperativo de Marinaleda, com campo de futebol, moradias populares e plantações ao fundo.
 As cooperativas costumam ter 400 pessoas trabalhando, e o salário gira em torno de 1200 euros, mesma quantidade recebida por servidores públicos da cidade. O salário dos trabalhadores em geral, independente de cargo é de 47 euros por jornada de trabalho, visto que cada jornada gira em torno de 35 horas semanais. Quanto a moradia, a cidade foi na contramão das imobiliárias e por 15 euros ao mês pode-se obter residência, pois foram construídas 350 habitações de forma cooperativa.
Marinaleda, Chrismon
Bandeiras socialistas e feministas pintadas em um muro da cidade.
O Conselho da Cidade possui onze vereadores, sendo nove deles do IULV-CA (Izquierda Unida Los Verdes- Convocatoria por Andalucia) e dois do PSOE (Partido Socialista Obrero Español). Por meio de assembleias, os políticos tomam suas decisões e o sindicato é que define. Bairro por bairro eles vão atendendo as necessidades da população.

 Isso tudo se deve a gestão de Gordillo como prefeito, que em 1991 conseguiu em parceria com o governo estadual da Andaluzia um lote de 1200 hectares de terra improdutiva, que pertencia a fazenda El Humoso. Dali em diante deu-se início a empreitada, que hoje possui trabalhadores atuando na lavoura e na indústria.

Abaixo, reportagem de uma TV lusitana sobre Marinaleda:
                                       

terça-feira, 29 de março de 2016

Em 1945, rubro-negros e tricolores se unem no futebol e na política

Dupla BaVi unida antes de uma partida. No meio de Istalino e Joel, está o árbitro Mário Vianna.
 Diferentemente do atual momento vivido no futebol baiano, no qual presidentes da dupla BaVi trocam farpas no caso Victor Ramos, na década de 40, ambas as equipes juntaram-se contras as arbitrariedades da FBDT (Federação Bahiana de Desportos Terrestres). A coincidência de semi-rivais unindo-se em prol de algo se deu no mesmo ano, no campo da política, quando o ex-presidente do rival, Lô Costa Pinto apoiou Marighella em sua campanha para deputado federal.

 No primeiro caso, o ainda Sport Club Victória, sob a presidência do Dr. Luiz Lago de Araújo chegou a pedir o afastamento da Liga Bahiana de Desportos Terrestres. Isso porque em 1944, o então presidente da federação, Antonio Bendocchi suspendeu os presidentes do Vitória, Bahia, Galícia e Fluminense de Feira. Naquele ano, quem assumiu a presidência da FBDT foi Orlando Gomes, e foi sob sua tutela que a federação pouco se queixou do afastamento rubro-negro, demonstrando acatamento após dirigir uma nota ao presidente do Leão.

 Foi em 5 de Outubro, que os clubes se reuniram na sede do Bahia. Com apoio do clube que viria a ser o seu rival, do Galícia e também do Flu de Feira, o Vitória encontrou forças para prosseguir na competição e até teve um de seus atletas entre os artilheiros, Siri.

 No mesmo ano, porém, cerca de dois meses depois, viria a acontecer as eleições gerais. O Brasil em processo de redemocratização, pós-varguismo elegeria seus deputados, dentre eles o baiano Carlos Marighella, candidato pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro) na Bahia. Para a sua candidatura pelo partidão, Marighella teve o apoio de ninguém menos que Carlos Costa Pinto, conhecido também como Lô, que fora presidente do Bahia em 1937 e colega de curso de Marighella.

Em 1945, Marighella viria a ser eleito deputado federal pelo Partidão.

 Como conta a biografia "Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo" de Mário Magalhães: "Ex-presidente do Esporte Clube Bahia e filho de um colecionador de arte, Lô era sócio da construtora que acabara de erguer o Edifício Oceania em frente ao farol da Barra". Se o amigo era tricolor, o então candidato era rubro-negro e discursava em Salvador tanto em denúncia a mortalidade infantil da época, quanto em prol da construção de um estádio de futebol. Isso culminou na construção da Fonte Nova em 1951, na mesma rua onde ele havia nascido. A eleição aconteceu em dezembro e Marighella se elegeu com 5188 votos.

sábado, 12 de março de 2016

Naná Vasconcelos, entre a esquerda e o futebol

Homenagem do Santa Cruz pela passagem de Naná Vasconcelos aos 71 anos.

 Faleceu na última quarta-feira (9) no Recife o músico Naná Vasconcelos, vítima de uma parada respiratória. O pernambucano Juvenal de Holanda Vasconcelos está numa linha tênue entre a esquerda e o futebol. Apesar de não se declarar comunista e tampouco um torcedor fanático, o ex-percussionista tem suas músicas ligadas tanto ao esporte bretão quanto a política.

 Em 2006 Naná lançou o seu álbum "Trilhas", que continha a canção "Quase irmãos". A música fez parte do filme praticamente homônimo, chamado Quase Dois Irmãos. O longa de Lúcia Murat contava a história de Miguel e Jorginho, amigos de infância de classes sociais distintas. Miguel viria a ser preso político em plena ditadura militar e na prisão de Ilha Grande reecontraria Jorginho que estava na vida do crime. A película aborda a divergência de privilégios tidas pelos presos políticos e presos comuns, demonstrando uma face menos humanizada da esquerda brasileira. Já em outra época do filme, os dois voltam a se reencontrar. Jorginho novamente na prisão, sendo chefe do narcotráfico, e Miguel como deputado. A vida dos dois se entrelaçam ainda mais quando a filha do político se envolve com traficantes comandados por Jorginho. Dessa forma, o filme termina com a música feita por Naná sendo exibida ao mesmo momento em que aparece imagens de contrates social na cidade do Rio de Janeiro, como a aproximação de prédios arranha-céus com os morros.


 Por outro lado, Naná tinha também sua aproximação com o futebol. Como o próprio afirmou: "não sou fanático, mas adoro o futebol-arte, objetivo e claro". Dessa forma ainda se afirmou como um 'torcedor sofredor' do Santa Cruz. Uma de suas composições traz os seguintes versos: "Não deixe o futebol perder a dança/ Nem perca esse sorriso de criança...". Sobre a canção, o músico ressaltara: "Na música, o primeiro instrumento é a voz e o melhor instrumento é o corpo. No futebol, o primeiro instrumento é a bola e o melhor instrumento do corpo".

quinta-feira, 10 de março de 2016

Em Minas, escola de boxe é criada com o nome de Marighella

Logotipo da Escola de Boxe Marighella.


 Em setembro de 2015, um professor de educação física teve como iniciativa a criação de uma escola de boxe voluntária no interior de Minas Gerais. Na cidade de Itabirito, que está localizada há 57 km de Belo Horizonte, deu-se a criação da Escola de Boxe Marighella, projeto que acontece num bairro simples da jurisdição e visa atrair o público infanto-juvenil para participar de atividades de luta, como é o pugilismo.

 Sendo o projeto, algo de espontânea voluntariedade, a escola se mantém a partir de rifas que são feitas para a compra de materiais, necessários ao treino, e também de patrocínios de comerciantes da localidade. Conta o professor Alexandre Sérvulo que a academia leva o nome de Carlos Marighella porque o reconhece como um dos maiores heróis nacionais, que lutou pela justiça e contra a opressão do homem pelo homem.

- Apesar de não ter sido boxeador, Marighella foi um grande lutador pelos ideais de justiça e praticava e reconhecia a importância de atividades físicas. - conta o professor.

O professor do projeto, Alexandre Sérvulo entre as crianças. Acima um poster de Carlos Marighella.

 A escola tem como intuito também formar ótimos boxeadores e a consciência crítica dos que participam. Dessa forma, parte do treinamento é dedicado a filmes, discussões, frases e tudo mais que sirva para desenvolver a consciência da importância tanto da luta nos ringues, quanto da luta por um mundo mais justo.

- No final de cada treino fazemos saudação a Carlos Marighella. - completou Alexandre.

Marighella e o boxe

 Se o percursor da escola admira a disposição de Marighella, de forma recíproca o ex-guerrilheiro era admirador do boxe. Nos ringues, o baiano era fã de Éder Jofre, tido por alguns como o maior peso-galo da história. Certa feita, nos tempos da ditadura militar, Marighella chegava a largar as reuniões do PCB para assistir pela televisão as lutas do pugilista.

 Conhecido como "Galinho de Ouro", Éder Jofre era sobrinho de Waldemar Zumbano, que por sua vez, era camarada de Marighella. Como conta a biografia "Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo", escrita por Mário Magalhães, Zumbano por volta de 1930: "...era um boxeur que devido á perseguição policial vivia peregrinando pelo interior a desafiar fortões. Como sua identificação lhe custaria a liberdade, ele adotara o nome de Frank Éder, que uma irmã eternizou, em 1936, ao batizar o filho como Éder. O menino Éder Jofre se transformaria no maior lutador do boxe brasileiro, conquistaria os cinturões mundiais dos pesos galo e pena e teria como fã o capoerista Marighella.". 

E.C. Vitória e o boxe:

 Apesar de não ser um clube com atletas voltados para o boxe, o Vitória possui atletas no taekwondo, no judô, jiu-jitsu e no MMA. Por sua vez, o baiano Acelino "Popó" Freitas, um dos maiores nome do pugilismo no Brasil é torcedor nato do Leão da Barra, tendo sido um dos integrantes da principal organizada do clube, a Torcida Uniformizada Os Imbatíveis.

Popó entre os membros da Torcida Uniformiza Os Imbatíveis.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Democratizar o futebol: o que se passa no EC Vitória

Como gritar gol era cada vez mais raro, clamar por democracia se tornava mais frequente.


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Por Daniel Caribé

É difícil determinar quando a exigência de democratização do Esporte Clube Vitória surgiu. Provavelmente há muitas décadas que loucos fora do lugar e do tempo levantam estas ideias, sem contudo ter nenhuma ressonância dentro ou fora das arquibancadas. Não é difícil entender os motivos da invisibilidade desta demanda. O futebol é, dentro dos espaços de reprodução do capitalismo moderno, um dos mais conservadores, corruptos e imersos em irracionalidades. Uma confusão entre empresa e associação, e entre torcedor e consumidor, faz da atividade umas das mais contraditórias. Como, portanto, transpor demandas e práticas da luta dos trabalhadores ou por cidadania para um clube de futebol?

Dos donos dos times, das federações, dos jogadores, das torcidas organizadas, das empresas de comunicações e outras mais, enfim, do meio de muitos interesses, o torcedor ainda se sente proprietário de algo que nem de perto é dele. Enquanto de um lado há toda uma cadeia produtiva, toda uma estrutura voltada para gerar mais e mais dinheiro, do outro há uma paixão que não ousaria explicar aqui, mas que em quase nada consegue influenciar nos rumos do time que chama de seu.

Mas o que acontece quando, no meio dessa paixão do torcedor, ele toma consciência de que nada daquilo de fato lhe pertence? E, mais do que isso, o que acontece quando ele passa a acreditar que é necessário ser verdadeiramente dono?

Sem romantismos, para uma torcida de futebol de um clube de massas (algumas pesquisam contabilizam mais de dois milhões de torcedores do EC Vitória), qualquer tentativa de impor uma única identidade é irresponsável. O EC Vitória, apesar da sua origem aristocrática (foi fundado no ano de 1899), se popularizou nas últimas décadas e nem de perto hoje é de uma torcida elitista. Ainda sim, empresários (grandes e pequenos), gestores das mais diversas origens, resquícios das oligarquias baianas, tudo isso tem que conviver nas arquibancadas do Barradão (estádio localizado no bairro de Canabrava, onde antes havia um aterro sanitário) com os setores mais populares da cidade de Salvador. Inclusive, a gentrificação imposta aos estádios brasileiros por causa da Copa do Mundo de 2014 (ver o texto “O direito ao estádio”) nem de perto atingiu o estádio de Canabrava, que continua, para as dores e alegrias dos seus torcedores, como um estádio antigo, de concreto e de livre circulação, sem cadeiras numeradas e demais formas de censuras recorrentes nas arenas.

Esse caráter popular das arquibancadas do Barradão se contradiz em muito com a diretoria do clube. O EC Vitória sempre serviu de estágio para que velhacos das oligarquias baianas brincassem um pouco. Algumas famílias devem beirar os 100 anos no controle do time. Por um lapso de tempo, na “Era Paulo Carneiro” (hoje diretor de futebol do Atlético do Paraná), o time ousou ser “moderno”, se inseriu na dinâmica mais avançada do capitalismo que se permitia a um time de futebol. Virou um “time empresa”. Uma protorrevolução burguesa aconteceu em Canabrava, mas com as cores rubro-negras. A torcida cresceu e o time também, mas o autoritarismo continuou a ser a marca registrada e, após alguns fracassos, o time chegou à Terceira Divisão do futebol nacional e os filhos das velhas oligarquias tomaram o brinquedo de volta.

Foi aí que os loucos começaram a ser escutados. Não era mais possível entregar o time a nenhuma forma autocrata de gestão. Se o comandante da “revolução burguesa” rubro-negra tinha fracassado, não seriam os oligarcas de sempre que nos colocariam em outro patamar. E sem ilusões aqui também: o torcedor de futebol está pouco ligando se o seu presidente é um fascista ou um democrata, se é um empresário ou alguém dos meios populares. O que importa é ver a bola entrar no gol adversário e as taças na galeria. Não foi, portanto, a crença em uma forma de organizar a vida que prevaleceu, mas a necessidade de apostar no único caminho que ainda não foi posto em prática. O que se estranha é que em tão pouco tempo ela tenha virado consenso. Como gritar gol era cada vez mais raro, clamar por democracia se tornava mais frequente. 


É claro que hoje todo mundo vai querer ser o pai da criança. Gente que há um mês atrás sequer cogitava falar em democratização de um clube de futebol levanta a faixa de “diretas já”. Mas a verdade é que o primeiro movimento surgido das arquibancadas do Barradão que pautou de forma clara a democratização do clube foi o Movimento Somos Mais Vitória – MSMV, no ano de 2010. Outro time do país já havia avançado em direção à democratização do clube (o Internacional de Porto Alegre) e graças a esta mudança se tornou um dos clubes mais vencedor no Brasil e na América Latina. A democracia já não era uma ideia fora do tempo e do lugar, mas uma possibilidade melhor do que o estado atual das coisas. Em 2011 o Vitória não conseguiu sair da Segunda Divisão, retornando aos trancos e barrancos em 2012 à Primeira, mas fez uma campanha inacreditável em 2013, terminando em quinto colocado. O resultado foi que o autoritarismo ganhou um novo fôlego.

Além disso, nesse ínterim, houve eleições no EC Vitória, na base da aclamação do indicado pelo presidente anterior (Alexi Portela), mas tentaram montar uma chapa de oposição que nunca saiu do papel. A chapa tentou engolir o MSMV, estraçalhando com o mesmo, e pautava de forma muito pouco clara a democratização do clube. Seu foco era a “profissionalização” e tinha por possibilidade o regresso de Paulo Carneiro. O resultado foi que o MSMV praticamente se acabou e a chapa não conseguiu concorrer às eleições. Um dos seus líderes foi acusado de estar envolvido em esquemas de corrupção na Prefeitura de Salvador, dando o tiro de misericórdia na articulação da oposição. Alexi Portela, com os portões do Barradão cerrados, encaminhou com tranquilidade e de forma fraudulenta o seu substituto, Carlos Falcão.

Foi nesse período também que o maior rival do time, em uma situação muito pior que a nossa, resolveu se tornar democrático na nossa frente. Não vamos entrar nos melindres do que aconteceu por lá, mas resumidamente podemos afirmar que o time se tornou refém do Governo do Estado por não ter estádio próprio e, com a implosão do estádio da Fonte Nova e construção de uma Arena no lugar, o novo equipamento precisava de um time que desse sentido aos gastos feitos para a Copa do Mundo. O EC Vitória, tendo o seu próprio estádio, e apesar de a diretoria ter insinuado a migração, tinha condições de evitar a imposição do Governo do Estado e a própria torcida recusou a mudança de endereço. Nesse momento aconteceu uma intervenção judicial no time de lá, que implementou a associação dos torcedores de forma massificada e convocou as tão sonhadas eleições. O fato é que, mesmo desta forma tosca, o time deu um salto qualitativo, voltando a ser bicampeão baiano após duas décadas. Agora havia também a experiência exitosa do rival e a desejo de democracia ia se tornando em algo concreto. O Movimento Somos Mais Vitória chegou a lançar duas notas se posicionando a respeito do que acontecia (ver aqui e aqui).

Em 2014 o time foi rebaixado mais uma vez e novas articulações ganharam força nas arquibancadas do Barradão exigindo democratização do clube. Com a experiência do MSMV, um grupo de torcedores resolveu fundar um novo movimento, chamado Vitória Livre. O Vitória Livre sabia que não poderia vacilar entre ser um movimento ou um grupo de oposição com a intenção de concorrer às próximas eleições. Tinha que focar em pautas concretas e plausíveis para manter a precária unidade e não se deixar capturar por interesses outros. O objetivo era reformar o estatuto do time, convocar eleições diretas e permitir que a torcida escolhesse os dirigentes do clube, abrindo a possibilidade para que o torcedor pudesse também se candidatar. A tática utilizada foi a de recolher assinaturas dos sócios torcedores nos portões do estádio em dias de jogo do time e, ao juntar uma quantidade considerada de assinaturas, exigir a convocação de uma assembleia geral.

Essa forma permitiu que o Vitória Livre ganhasse o respeito e o apoio da torcida, pois foi necessário conversar com vários torcedores ao longo de alguns meses. Foram recolhidas quase mil assinaturas dos sócios torcedores, num quadro de sócios cada dia mais reduzido por conta dos fracassos do time em campo e da má vontade da atual diretoria em estimular a associação. Isso porque, como prevê o atual estatuto nunca posto em prática, com 18 meses de associação o torcedor teria direito a votar nas eleições do conselho (e o conselho escolhe o presidente) e a diretoria fazia de tudo para que o torcedor não participasse da vida do clube para além dos gritos nas arquibancadas. Outros movimentos surgiram nas arquibancadas do Barradão e, a cada tropeço do time em campo, mais torcedores apoiavam a ideia de democratização do time. Entretanto, alguns movimentos passaram a apoiar um processo idêntico ao do rival, solicitando a intervenção judicial.

Em um desses fracassos em campo, o último presidente (Carlos Falcão), com pouco mais de um ano no cargo, solicitou afastamento e uma corrida pelo poder no clube se instaurou, mas também abriu espaço para que finalmente a reforma estatutária saísse do papel. A ideia de democratização do time, que já havia se alastrado pelas arquibancadas, ganhou também parte dos grupos que disputavam o poder há anos. Entretanto, é impossível dizer quem de fato apoia a democratização do clube ou quem aderiu ao movimento entendendo que quem fosse contrário nesta altura do campeonato estaria eliminado do comando. Além do mais, o que essas pessoas entendem por democratização de um time de futebol?

Da pressão das arquibancadas, saiu a convocação para uma Assembleia Geral “consultiva”, ocorrida no dia 06 de junho de 2015. A Assembleia não tinha o propósito de decidir nada, apenas o de dar uma satisfação à torcida. De qualquer forma, os representantes dos diversos movimentos foram chamados para compor a mesa e a palavra foi franqueada para os torcedores que se fizeram presentes. O consenso em torno da democratização do clube foi formado, com nenhuma voz se opondo publicamente. Só falta entender para que lado essa democratização irá.

Apenas quem destoou dos demais presentes foi a maior torcida organizada do clube, Os Imbatíveis, que se posicionava sempre ao lado da diretoria do clube e contra a democratização, com medo que “aventureiros” tomassem o time de assalto. Em troca do apoio, o presidente da torcida se tornou conselheiro do EC Vitória. Os representantes da torcida organizada presentes na Assembleia não se colocaram, mas ameaçaram fisicamente os outros torcedores que vaiaram quando o nome do seu presidente foi anunciado, deixando o ambiente tenso.
Antes dessa assembleia ocorreu a articulação de vários movimentos e uma das figuras que se destacou foi Augusto Vasconcelos. Assim como setores ligados ao PT influenciaram bastante no processo de intervenção no time rival, no Vitória parece que é o PCdoB que se interessa pelos caminhos tomados. Augusto Vasconcelos é um advogado filiado ao PCdoB e atualmente presidente do Sindicato dos Bancários, um dos sindicatos mais importantes do Estado. Entre esses movimentos que Augusto conseguiu se articular se encontra tanto o que sobrou do MSMV quanto o Vitória Livre. A unidade desses movimentos passou a se chamar Movimento Por Um Vitória Melhor, tendo Augusto o seu próprio movimento, chamado de Frente 1899. O momento é delicado porque ao mesmo tempo que a unidade entre os diferentes movimentos dá mais força à demanda, por outro, tira de alguns deles a radicalidade, podendo centralizar nos “líderes” as negociações que envolvem o interesse de milhares. E, é claro que não é somente o PCdoB que tem interesse nos rumos do EC Vitória, muito menos só os partidos políticos.


Os pontos que parecem unificar a todos esses movimento são: 1) convocação da Assembleia Geral deliberativa para aprovar o novo estatuto e realização das eleições ainda em 2015; 2) eleições não só para escolher o presidente, mas também todo o conselho, ampliando a democratização aos demais espaços do clube; 3) conselho proporcional e mais enxuto (algo em torno de 100 conselheiros, quando atualmente o número passa dos 400); 4) remodelação e expansão do plano de associação; e 5) profissionalização da diretoria, com remuneração para os dirigentes.

É bem confuso se posicionar diante de tudo isso. Por um lado, não deixa de ser animador ver uma torcida de futebol exigindo participar da gestão do próprio time. Gerir os próprios ócios pode servir de aprendizado para a gestão das demais dimensões da vida, inclusive a principal, que é a gestão da economia. Por outro lado, não se pode cair na ilusão de achar que a democracia é um fim em si mesma. Da mesma forma que a democracia só serve aos trabalhadores se for para tirá-los da miséria e da opressão, em um time de futebol o que se quer, principalmente, são vitórias e títulos e, em troca disso, muitos podem abrir mão desses valores progressistas na próxima esquina. Nunca se sabe que tipo de represália um time de futebol verdadeiramente democrático pode receber nesses meios e, sendo um time médio do futebol brasileiro, não resistiria por muito tempo atuando de forma contrária às práticas dominantes. Portanto, quanto tempo a torcida sustentaria um time democrático que não consegue vencer em campo?

Ainda, foi surpreendente ver os dilemas dos movimentos sociais acontecerem dentro de um estádio de futebol. A burocratização da luta, a captura das pautas por gestores, o movimento ambíguo de apatia e de euforia, as diferentes táticas dos movimentos e partidos (a chapa que pretendia concorrer às eleições), a milícia fascista oprimindo os demais (a torcida organizada) e por aí segue. Isso tudo sem deixar de considerar que a torcida é formada por pessoas das mais diferentes classes sociais.

Diante do que se passa, as expectativas que ficam são: 1) que a maior torcida organizada do clube mude suas práticas, pare de ameaçar os torcedores (nas arquibancadas e nas redes sociais) e se posicione de fato ao lado dos demais na luta pela democratização. Querendo ou não, é a voz da torcida quando a bola está rolando no gramado; 2) que a unidade entre os diferentes movimentos não retire de alguns a radicalidade na luta pela democratização do clube, que a prática de conversar e envolver cada torcedor continue, sem jogar peso nas articulações de gabinete; 3) que não se crie nenhuma ilusão nas pessoas, mas sim na reforma das instituições. Alguns podem conseguir expressar os interesses das arquibancadas e se tornarem, portanto, uma vanguarda legítima. Mas para virar uma nova elite não demora muito, ainda mais se se trata de filiados a partidos que nunca foram simpáticos aos processos democráticos. A luta, portanto, não pode girar para a eleição de A ou B, mas para a consolidação de uma nova estrutura democrática no EC Vitória; e, por último, 4) que se avance o mais rápido e de forma mais radical possível neste momento, pois nunca se sabe quando teremos uma conjuntura tão favorável quanto a atual.




Publicado originalmente no Passa Palavra.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Como o futebol explica o fascismo na Polônia

Torcida do Legia Varsóvia com a faixa "100% anti-antifa".


 A Polônia foi proclamada como república popular pós-segunda guerra mundial, sendo tida como um "estado satélite". A onda anticomunista cresceu no país após o período revisionista de Nikita Kruschev, entre a década de 60 e 70. Foi em território polaco que o metalúrgico Lech Walesa criou o sindicato Solidariedade, com o intuito de promover a oposição ao governo.

 O Solidariedade angariou diversos cidadãos, mobilizando-os contra o governo. Parte deles eram torcedores torcedores do Lechia Gdansk. Estes grupos de hooligans, após aderir ao anti-comunismo de Walesa posteriormente acentuaram-se como pró-fascismo, destino de outras torcidas de grande porte da Polônia e do continente europeu.

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Sharks, a torcida do Wisla Cracóvia em Roma.
 Os relatos de um dos hooligans do Lechia Gdansk no documentário The Real Football Factories informa que havia militares rondando os bairros onde os mesmos se concentravam. Por isso, seus protestos aconteciam nas arquibancadas e após as partidas, onde os hooligans bradavam frases como:  

"Em árvores
Em vez de folhas
Vamos enforcar
Os comunistas"

Grupo anti-comunista da cidade de Varsóvia.
 Isso culminou pra que os torcedores poloneses viessem a virar símbolo, enquanto o Solideriade chegava ao poder através de Walesa. A dita independência polaca veio e com ela a violência no meio futebolístico que se acentuou entre as torcidas. Isso culminou pra que o fascismo ganhasse força entre os torcedores da Polônia. Na atualidade, times como o Legia Varsóvia e o Wisla Cracóvia e o Cracóvia possuem torcidas que geralmente brigam entre si, mas compartem do mesmo repúdio pelo comunismo, aportando-se na extrema-direita, algo que é muito propagado em meio as arquibancadas, onde pode-se encontrar anti-antifas, white-powers e anti-semitas, além de outros torcedores que se opõem as minorias.

Hooligans do Lechia Gdansk se opondo a imigração turca.
 Apesar da onda crescente de fascismo em solo polonês, ainda há anti-fascistas. Como um dos hooligans diz no documentário de Danny Dyer, a sociedade se dividiu após a mudança governamental. Mesmo estratificada, boa parte destes torcedores seguiram a fundo o sentimento anti-comunista, mas por outro lado ainda há grupos de Antifas, como o Divisão 161, que contou com a presença de seus líderes na Inglaterra, onde Greg (um dos militantes) denunciou os casos de fascismo correntes na Polônia, afirmando que o grupo participa frequentemente de manifestações anti-fascistas.
Divisão 161, o grupo antifascista polonês.